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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Falemos sobre... Perdoa-me Por Me Traíres!!

Já tem 1 ano que eu não público uma "crítica" minha... isso se deu por N fatores, o principal deles é que tenho trabalhado muito e não tenho tido muito tempo! No entanto hoje eu fui "convocado" a escrever por conta de um post que fiz no Facebook que algumas pessoas não gostaram sejamos econômicos e não nos estendamos neste assunto. Que sirva de desculpa para que eu possa escrever mais.

Hoje fui assistir a peça "Perdoa-me por me Traíres" do Grupo Teatro Kaô de São Mateus/ES no Cursinho Alternativo durante a 2ª Mostra Cênica. Antes tinha assistido o excelente Vidas Secas no SESI durante a mesma mostra, depois irei escrever sobre essa obra prima, mas voltemos ao Nelson Rodrigues.

Primeiramente é bem complicado escrever algo sobre um espetáculo que não se viu inteiro, sinceramente não consegui foram poucas as vezes que isso me aconteceu, na verdade hoje foi a quinta vez. Falarei então do primeiro ato da obra, pois foi única que vi em sua plenitude.
Kaô na gíria popular tem significado de algo que se assemelha a uma mentira mal contada, sacanagem, tentando passar a perna e foi exatamente assim que me senti durante o tempo que passei na sala de apresentações, infelizmente. Digo isso porque tenho profundo apreço pelo texto uma vez que em 2011 participei de uma montagem do mesmo (como ator no Grupo Ibilce (En)Cena).

A montagem realizada pelo grupo do Espírito Santo é bastante disforme apostando em elementos desconexos e dissonantes. A luz era de serviço o tempo todo com um set light afinado para cima o que deu um aspecto de ensaio para a apresentação (até poderia ser interessante se bem trabalhado), o cenário era composto de algumas cadeiras e um ou outro elemento que entrava de acordo com o decorrer das cenas, mas sem nenhum tratamento estético o que aumenta a sensação de ensaio dando um retoque de "improvisado", figurinos: alguns atores com e outros todos de preto, musicas que não condizem com a tensão que o texto propõe, hora tocadas ao vivo e em outros momentos nas caixas de som.

Tudo isso poderia ser irrelevante se tivéssemos um elenco que segurasse a bronca e uma direção criativa, mas não é o caso. Os atores e atrizes são frágeis, por vezes recorrendo ao grito e à esteriótipos para se expressarem e ainda parecem não saber ao certo o que fazer com as mãos e/ou se aterrarem.

Isso tudo são questões de direção que a meu ver ainda comete dois últimos "equívocos" o primeiro é utilizar do texto ipsis litteris, tal qual foi escrito, isso provoca um gigantesco distanciamento da obra além de não dar dinamicidade para a obra que eu particularmente prefiro.

Agora a grande questão e que de fato me fez sair da sala foi conteúdo machista e racista impresso pela encenação. O texto por si só já têm um conteúdo machista, mas a direção amplificou esse viés ao estereotipar as personagens gays e também ao acrescentar na cena do aborto figuras que ao que me pareceu serviam apenas para tentar causar algum tipo de graça.

Racista por dois momentos, primeiro quando a menina estuprada é a negra enquanto a branca dá risadas e segundo quando, novamente na cena do aborto, aparece um médico negro com uma bata branca (que me pareceu ser do candomblé, num deu pra ver direito) para matar a menina branca de "boa família". Neste momento eu não aguentei e resolvi sair da sala de apresentações!

Por Fim... Toda vez que vamos ao teatro vamos com o coração aberto para gostar das obras, ninguém vai ao teatro para não gostar de algo. Felizmente não gostamos de 100% do que assistimos, imagina que chato seria a vida se ela fosse maravilhosa tal qual nos é passado pelas redes sociais. Por fim que nós possamos cometer mais "sincericídios" eles podem nos levar a lugares inexplorados e nada é mais fascinante do que o inexplorado!

Desde já agradeço... Lawrence Garcia